Chamada de artigos para o dossiê: REMHU, n. 69 (dezembro 2023) - n. 70 (abril 2024)
O número 69 da Revista, de dezembro de 2023, incluirá um dossiê sobre o tema: “Desafios educacionais da mobilidade humana contemporânea”. Data limite para entrega dos artigos, 10 de agosto de 2023.
O número 70 da Revista, de abril de 2024, incluirá um dossiê sobre o tema: “Abdelmalek Sayad: Migração, Estado e Amnésia histórica”. Data limite para entrega dos artigos, 10 de janeiro de 2024. Gustavo Dias e Gennaro Avallone (Guest Editors)
****
O número 69 da Revista REMHU, de dezembro de 2023, incluirá um dossiê sobre o tema: “Desafios educacionais da mobilidade humana contemporânea”. A data limite para entrega dos artigos é 10 de agosto de 2023.
A educação ocupa um grande papel na nossa sociedade. Na escola, além de aprender conteúdos, ler, escrever, os números... é onde entramos em contato com parte dos nossos códigos culturais e morais, aprendemos a conviver com pessoas e realidades diferentes. A formação educacional faz parte da construção da identidade do ser humano. Nas palavras de Edgar Morin, “a Educação deve contribuir para a autoformação da pessoa (ensinar a assumir a condição humana, ensinar a viver) e ensinar como se tornar cidadão” (2003, p. 65).
Assim sendo, as instituições educacionais são também espaços de relações de poder e conflitos, onde há disputas relacionadas a interesses específicos das pessoas envolvidas. Nessa perspectiva, as práticas pedagógicas podem seguir dinâmicas “bancárias” ou “libertadoras”, como alertava Paulo Freire (1983).
É neste contexto de extrema relevância e conflitividade dos espaços educacionais que se insere a figura da pessoa migrante. Quando pensamos as relações possíveis entre migração e educação, algumas questões são focadas e debatidas em termos positivos: o sistema escolar pode ser lugar de incorporação das pessoas migrantes; permite a interação e convivência com coetâneos autóctones, com a possibilidade de promover o reconhecimento recíproco; contribui na aprendizagem do idioma local, bem como de valores típicos do lugar de residência; possibilita a mobilidade social, sobretudo das novas gerações.
No entanto, as instituições escolares, em seus diferentes âmbitos, podem ser também palco de violações de direitos: dificuldades encontradas pelas pessoas migrantes, crianças, jovens e adultos, nos países receptores no que diz respeito ao acesso ao sistema educacional; os burocráticos processos de revalidação dos diplomas; experiências de discriminação e bullying; carências de percursos psicopedagógicos específicos para estudantes não nacionais recém-chegados; reduzida valorização das culturas e saberes das terras de origem; escassa formação do corpo docente em relação a percursos interculturais de formação; evasão escolar ou baixo rendimento em decorrência da necessidade de atividades para o sustento, entre outros.
Objetivo do número 69 da REMHU, Revista Interdisciplinar da Mobilidade Humana (dezembro 2023) é justamente aprofundar e refletir acerca dos desafios da presença de pessoas migrantes e refugiadas nas instituições educacionais, nos diferentes níveis de ensino, visando a promoção de processos pedagógicos inclusivos, interculturais e libertadores.
É possível elencar vários temas relacionados a educação, que estão associados aos desafios das pessoas migrantes nas sociedades de destino. Este Dossiê está interessado em artigos que abordem os seguintes temas, de maneira não exclusiva:
‒ Políticas públicas de acesso e inclusão de pessoas migrantes no sistema educacional
‒ Pessoas migrantes e seus desafios na educação básica (incluindo desafios relacionados ao gênero)
‒ Revalidação de diplomas
‒ Educação popular e migração
‒ Discriminação, xenofobia e bullying nas instituições educacionais
‒ Desafios da aprendizagem do idioma local
‒ Educação intercultural e libertadora
‒ Formação escolar de pessoas migrantes e mobilidade social
‒ Cátedra Sérgio Vieira de Mello (CSVM)
***
O artigo (inédito; entre 35 e 45 mil caracteres com espaço) pode ser escrito em português, italiano, espanhol, francês ou inglês e será avaliado por dois referees. As normas de publicação e submissão estão disponíveis em: http://remhu.csem.org.br/index.php/remhu/about/submissions
Os artigos devem ser enviados à Revista REMHU pelo site de submissão eletrônica de manuscritos: http://remhu.csem.org.br/index.php/remhu/index
Referências bibliográficas
FREIRE, Paulo. A pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.
****
O número 70 da Revista, de abril de 2024, incluirá um dossiê sobre o tema: “Abdelmalek Sayad: Migração, Estado e Amnésia histórica”. Data limite para entrega dos artigos, 10 de janeiro de 2024.
Dossiê: Abdelmalek Sayad: Migração, Estado e Amnésia histórica
Gustavo Dias, Gennaro Avallone (Guest Editors)
Importante analista do fenômeno migratório, Abdelmalek Sayad (1933-1998) é um autor que, ainda, tem sua obra pouco difundida na academia brasileira e também nos idiomas espanhol e inglês. Os motivos vão desde a limitada tradução de seus textos – redigidos essencialmente em francês –, até o pequeno número de pesquisadores brasileiros dedicados ao estudo e interpretação de sua obra. Ao lado de intelectuais como Pierre Bourdieu, Frantz Fanon, Mouloud Feraoun, Mohammed Dib e Albert Memmi; Sayad, através de uma consistente produção bibliográfica dedicada, principalmente, à migração argelina, denunciou o brutal sistema colonial francês no Magreb e, posteriormente, o ambíguo nacionalismo argelino e as contraditórias politicas migratórias promovidas pela Europa a partir da Guerra Fria. Ao longo de sua trajetória intelectual, desenvolveu ferramentas conceituais importantes e, ainda, bastante atuais para compreendermos o controle estatal de grandes deslocamentos migratórios em curso.
Sayad aborda o fenômeno migratório através de uma minuciosa análise sócio-histórica que expõe, criticamente, como o sujeito, em condições migratórias, é produzido e gerenciado, tanto pelo estado de origem quanto pelo estado de destino. Encerrados em uma assimétrica relação de poder, migrante, estado de origem e estado de destino partilham, como o próprio autor define, a “ilusão da provisoriedade”. Um fardo carregado exclusivamente pelo migrante. Reduzido à dimensão do trabalho temporário e destituído de vida política “aqui” e “lá”, sua condição existencial está sob constante dependência de decisões políticas entre os dois estados, que, por sua vez, também não partilham igualmente do poder decisório sobre aqueles que migram. Não por acaso, a constante evidência do legado colonial, presente nos desiguais acordos firmados entre uma França Industrial, sedenta por mão-de-obra barata, e uma Argélia recém-independente, sustentada por um nacionalismo excludente, foram preocupações constantes e presentes para Sayad, em seus estudos sobre o controle da migração argelina através do Mediterrâneo.
Para Sayad, esmiuçar criticamente narrativas estatais, tidas como oficiais, torna-se uma ferramenta epistemológica significativa para expor, ao público, a intencional “Amnésia Histórica” produzida pelos mesmos, que visa apagar as relações históricas de poder presentes na gestão de grupos migratórios. Nessa tônica, termos recorrentemente usados pelo estado, academia e mídia como, por exemplo, “crise migratória”, “integração”, “asilo”, “naturalização”, “exílio”, “minorias” e “identidade” demandam uma compreensão sócio-histórica crítica de suas respectivas formulações e usos. Mais do que termos aparentemente técnicos, velam relações históricas de violência e dominação estatal sobre populações migrantes em condição de vulnerabilidade ou subalternidade estrutural
É, portanto, em torno da estratégica produção da “Amnésia Histórica” pelos estados de origem e destino, criticamente analisada por Sayad, e suas implicações sobre grupos migratórios, que objetivamos centrar nossa reflexão no dossiê “Abdelmalek Sayad: Migração, Estado e Amnésia Histórica”, para a REMHU, Revista Interdisciplinar da Mobilidade Humana.
Entre os possíveis focos, destacamos:
- A atualidade das categorias utilizadas e elaboradas por Sayad no estudo das migrações atuais;
- O papel do pensamento estatal na produção de vocabulário utilizado no debate público e pelas agências internacionais para definição e compreensão dos processos migratórios;
- Arquivos e dados oficiais na eventual produção de “amnésia histórica” sobre grupos migratórios;
- A intrincada relação assimétrica entre estado de origem e estado de destino na produção de “amnésia histórica” sobre migrantes;
- A relação entre a estrutura da divisão internacional do trabalho e os distintos processos de mobilidade espacial;
- Os atuais processos migratórios face às políticas internacionais de migração nas diferentes áreas geográficas do planeta;
- A condição de respeito pelos direitos humanos no quadro do atual regime migratório.